☄️ As vidas que a volta dá
essa é uma edição extraordinária do Cometa, com menos estrutura e mais piração.
não sei até onde isso vai, não tenho ideia se um dia isso volta. mas tá aí. vamo nessa.
Há 2 meses
A gente anda todo dia pra cá e pra lá, a gente atravessa sem olhar. Fica com o celular de bobeira, come tudo errado. Bebe um pouco demais. A gente mexe no ar condicionado, a gente anda todo dia pra lá e pra cá.
Devia ter um jeito do universo nos recobrar a consciência de estar aqui, vivão, achando problema onde não tem. Um jeito indolor, por favor. Ou que seja até dolor, mas, vá lá, sem compromisso.
É besta demais a gente se esquecer tanto das coisas mais básicas. É besta, também, a gente só se lembrar quando o bicho pega. É besta ser humano de um modo geral, afinal.
Seria tão bom se a gente fosse programado pra não se esquecer, estar presente e consciente de tudo. Quase onisciente do que um dia já soubemos:
Saber, o tempo todo, que o universo é gigantesco e que a gente praticamente não é nada nele.
Saber, a qualquer momento, que o átomo é tão pequeno que ele praticamente não existe, mas é só por conta dele que tudo acontece.
Saber, sempre, que um dia a gente morre. Lembrar que esse dia a gente nunca sabe. E entender que é melhor viver melhor enquanto ainda dá, né?
Saber o que a gente gosta de ver, onde a gente gosta de estar e o que a gente gosta de ingerir.
Digo, a gente não precisa saber tudo ao mesmo tempo. Mas bem que dava pra ter consciência plena e constante do que importa.
Pô, deus. Existe aí, dá um jeito.
Hoje
As coisas não existem, aí acontecem, existem, significam absolutamente tudo, passam, deixam de existir de novo e se bobear a gente nem percebe. A gente tem que lembrar - e reagir do jeito que der - pras coisas continuarem com a gente.
Às vezes a vida dá voltas. Com sorte, sempre figurativamente. Acontece que por aqui, há 2 meses e uns dias, elas foram literais.
Uns dias depois, comecei a escrever um pouco disso aqui. O tempo me fez desencanar, repensar e questionar. Não dá pra saber qual é o tempo certo pra falar das coisas, né? Uma hora as coisas ainda parecem estar frescas demais. Na outra, já foram 2 meses e você fechou aquela aba sem querer um dia e a cabeça tá cheia de coisas demais pra recuperar na hora, quem dirá depois.
E aí, num lapso de pró-atividade aleatório, me convenci a vir pra cá pra concluir essa edição - mesmo sem saber ao certo qual é o ponto dessas palavras, ou o que eu estava querendo dizer há 2 meses, e até se ainda quero dizer algo disso que nem sei bem o que era.
Fato é que a vida segue. Às vezes com a força destruidora que tem um carro capotando em plena rodovia, às vezes na inércia quase insossa de dois meses arrastados e burocráticos.
Tem coisa que acontece e a gente repensa a vida. Mas aí a gente esquece até delas. E até do que a gente repensou.
Por isso a gente podia, sim, aprovando (com alterações) a parte escrita há 2 meses, ter o que importa sempre aceso em algum canto da cabeça. Meio como quando a gente tá com algo na ponta da língua e não lembra de jeito nenhum. Tipo o gato de Schrödinger, só que trocando o gato por basicamente tudo o que é importante. Tudo, ao mesmo tempo, tá lá e não tá.
Meio que uma nova forma de esquecer.
Ou meio que uma nova forma de lembrar.