🌠 Chuva de meteoros 01
Receitas em blocos, emojis livres, paisagens infinitas e LUZ EM SLOW MOTION??
E aí, pessoal, tudo bem?
Poucas épocas da minha vida carregaram uma resposta tão inesperadamente cheia pra um inofensivo “como estão as coisas?” quanto esses tempos. Não porque tem acontecido muita coisa (pelo contrário, acho que “as coisas” estão até meio paradonas), e sim porque, bom, parece que faz muito tempo que tem acontecido coisa muito grande, numa sucessão quase incansável de acontecimentos aleatórios:
Primeiro que essa pandemia não começa a realmente acabar nunca, né? Claro que a gente passa por ondas, picos, vales, demais formações geográficas e de qualquer forma o fantasma do covidão tá ali pairando no horizonte como se fosse uma nuvem fixa que não acompanha o movimento do resto do céu (obrigado, Jordan Peele, pela linda imagem). Parece conversa fiada, mas desde 2020 a cabeça não opera no 100% por aqui. Espero que com vocês seja diferente, de verdade.
Depois que - não sei por aí, mas - eu ainda tô sentindo quase que fisicamente a ressaca da eleição que passou. Essa pauleira dos meses do segundo semestre me deixou em meia-fase até o finalzinho de outubro. O período entre os 2 turnos da eleição, então, eu não sei nem onde eu tava. E aí todo o merderéu que sucedeu o resultado, com gente fascista e antidemocrática se juntando contra qualquer noção de lógica e respeito, também tem trazido um gosto amargo que não era o que eu planejava sentir nesse período de transição.
E aí, saindo dos âmbitos sociais e entrando nos pessoais, a bruxa tá definitivamente solta pelo meu corpo. Numa sequência quase ensaiada de passes cuidadosamente enfileirados, tive:
Reação braba da quarta dose da vacina - aquela derrubada de dois dias que só a AstraZeneca pode oferecer;
Uma virose completamente aleatória que me deixou mais uns 2 dias de cama (e uns outros tantos dias daquele jeito 💩, com o perdão do emojinho);
A descoberta de uma bactéria no meu estômago (a tal da H. Pylori), que aparentemente é bem comum mas precisa ser tratada com antibióticos, e aí, por consequência:
O início e imediata suspensão do tratamento com antibiótico, que imediatamente causou uma reação alérgica tenebrosa no meu corpo e me fez encarar 2 semanas de corticoide só pra alergia pensar em passar. Nesse intervalo, perdi umas boas noites de sono pelo simples fato de estar com o corpo coçando incontrolavelmente e uns bons dias de vigília pela reação ter inflamado até o meu tímpano e eu ficar constantemente escutando um zunido no ouvido.
Pra alguém que já não tinha a disciplina ou disposição pra escrever regularmente em condições normais de pressão e temperatura, você imagina a quantas andava a chance de sentar aqui, centrado e bonito, pra escrever alguma coisa, né?
O negócio é que mesmo com a vida completamente zicada e atravessada por obstáculos mentais, físicos e sociais, as coisas simplesmente não param de acontecer. A gente segue clicando em links, tendo amigos interessantes que enviam coisas legais e trombando aleatoriamente com pautas internet afora.
E aí o coração do newsletteiro ansioso quase explode, porque você quer desenvolver com atenção cada um daqueles temas (sério, tudo que tá aqui hoje eu queria ter isolado em uma edição específica e aprofundada) mas as abas só aumentam, você não tá na vibe certa e, quando você vê, “escrever newsletter” e “atividade saudável” começam a não andar mais juntos.
E é aí que surge a 🌠 Chuva de meteoros 🌠
Pra dar conta, mantendo o pé no chão, desse acúmulo de coisas sobre as quais eu queria escrever e que estava me soterrando. Não é o ideal, claro - eu queria ser uma máquina de escrita que aprofunda lindamente todas as possibilidades - mas pelo menos é alguma coisa. Pelo menos eu fico com a consciência leve por ter desobstruído umas pautas e as pautas ficam gratas por não terem sido esquecidas na escuridão daquele grupo de abas das coisas pra escrever na newsletter.
Ou seja: Quando bater aquela vibe e eu decidir escrever praticamente um tratado sobre uma tela colaborativa na internet, eu escrevo e mando numa edição tradicional de O Cometa ☄️. Quando a vibe não bater e as pautas acumularem, vamos de Chuva de meteoros 🌠 pra chaleira parar de apitar. Bora?
Blocos de receita
De todos os links que estavam ali esperando a hora de brilhar, esse é o mais antigo. Nem sei quantos meses se passaram desde que o Marcon (amigo de todas as horas e escritor do sempre excelente Sinto Muito) me mandou esse link, falando que parecia algo que poderia estar n’O Cometa. Matou a pau: Esse texto de Clement Lo, publicado em um blog de UX Design, é bem o tipinho de coisa que me faz coçar a cabeça do jeito certo. É, apenas, uma nova proposta de notação para receitas culinárias. Uma notação que usa imagens e divide visualmente as etapas num esquema basicamente algorítmico que contempla todas as nuances de uma receita - desde instruções mecânicas até tempos de espera. Você vê tudo, desde as fotos dos ingredientes separados até as diferentes etapas deles se misturando e se reconfigurando em novas organizações, formando o prato final.
É justamente por mexer de forma tão estrutural com um item tão imutável da nossa cultura (receita é listinha de ingrediente + textinho de preparo desde que o mundo é mundo) que o negócio me encantou - aliás, se eu tivesse conseguido desenvolver uma edição inteira só pra essa pauta, tentaria transcrever para o formato RecipeBlocks alguma coisa que costumo fazer na cozinha, talvez uma panqueca americana ou uma receita de gin tônica. Às vezes até um preparo específico de café. Seria interessante, né? Quem sabe um dia.
Emojis livres são emojis felizes
Eu gosto muito, mesmo, de acompanhar a evolução dos emoji. Acho real que eles já são parte obrigatória da nossa forma de se expressar como sociedade (chega mais, pessoal das letras, bota aí umas pirações de linguística). Só entrar de vez em quanto no emojipedia (e acompanhar os posts deles no twitter) já me entrete horrores. Confesso que julgo um tanto algumas decisões de certas empresas que decidem criar famílias de emoji próprias (Samsung, apenas PARE enquanto você tem um mínimo de dignidade), mas admiro e reconheço com tranquilidade quando o pessoal acerta, pelo outro lado.
E quem acertou no milhar recentemente foi a Microsoft com a sua nova família de emojis que acompanhou o lançamento do Windows 11. Não só eles são muito bonitinhos e bem desenhados como também foram pensados em 4 estilos diferentes (como os da imagem acima). Mas o melhor de tudo: Eles são livres! Sim, a gente vive nesse mundo bizarro onde emojis são propriedades intelectuais de empresas e até bem pouco tempo atrás existiam poucas iniciativas de criação de emoji que pensavam num uso menos controlado de suas famílias (os emojis do Twitter, por exemplo, são de uma delas). Com essa nova geração, a Microsoft anunciou também sua escolha pelos emojis livres: Tá tudo lá*, é só entrar, baixar todos os emojis que você quiser e remixar como você bem entender. Aliás, esse próprio ícone do cometinha que eu uso pra ilustrar as edições é do pacote!
*tá certo, existe uma pequena licença a ser lida e respeitada, mas é realmente tranquila e vamos dar um desconto pros advogados da Microsoft que não devem ter entendido nada (“como assim a gente não vai poder processar?”). Ainda nisso, um emoji que existe pro Windows 11 e não está disponível no pacote livre é o Clippy, o clipezinho do word.
Pergaminho digital infinito
Se tem uma coisa que já ficou bem claro que me interessa nessa tal de internet (e se reflete aqui pra newsletter) é esse negócio de imagens que não existem, imagens impossíveis, imagens infinitas e demais variações. A bola da vez é essa arte de Dheera Venkatraman que subverte os pergaminhos ilustrados com paisagens orientais, desses que se desenrolam para mostrar o cenário completo. O ponto é que, nesse caso, o cenário é infinito: A partir de um script que gera essas ilustrações indefinidamente, Dheera montou uma tela de e-ink (a tecnologia de “tinta digital” que não usa luz, como nos kindles) emoldurada e conectada a um Raspberry Pi Zero (basicamente, um minicomputador muito simples muito usado para invencionices atuais) que cria, infinitamente, novas continuações para a paisagem exibida. A obra se “desenrola” para a direita e, na prática, a cada nova atualização do quadro, uma nova paisagem, inédita e irrepetível, fica visível.
A melhor parte: O script que gera as paisagens tem uma demonstração online! Clica aí e vai desenrolando, pra sempre, a sua paisagem exclusiva!
Piscou, perdeu (dez trilhões de vezes)
Olha, vou ser bem sincero e dizer que essa aqui eu nem vou tentar ler com toda a atenção pra explicar tecnicamente o que realmente tá acontecendo aqui e quais são as possibilidades e impossibilidades que surgem dessa loucura. Se você quiser, clique aí e entenda melhor. O lance é que aparentemente existe uma “câmera” que conseguiu capturar a velocidade da luz em slow motion, registrando um raio de luz se dividindo a DEZ TRILHÕES DE QUADROS POR SEGUNDO.
Eu nem consigo começar a explicar o quanto isso explode a minha cabeça. É quase como se a gente estivesse, finalmente, usando trapaça no mundo. Se existe um deus, daqui a pouco ele vai parar a bagaça toda e falar “ok, deu, vcs foram longe demais, de volta pras cavernas agora”.
Bom, acho que já deu, né, gente?
Agora, tendo dado vazão aos links mais urgentes e escrito essa edição que deveria ser curtinha mas talvez já esteja ficando grande demais: É estranho escrever num formato assim, meio… coquetel. Meio pílulas. Algo nessa correria me incomoda um pouco. Acho que falta aprofundar, respirar, explicar e dar mais espaço pra cada coisa. Porém, como eu falei, de vez em quando vai ter que ser assim e assim será, em nome do desafogamento das pautas.
Espero que não tenha sido caos demais pra leitura de vocês. Se possível, me digam se o formato cai bem ou se realmente é mais negócio focar em menos assuntos, mais aprofundados.
Obrigado pela leitura e até a próxima! 🌠